Nova York - Cientistas do Instituto Wyss, da Universidade de Harvard,
desenvolveram órgãos com um chip. A ideia é solucionar o problema
causado pelo método usado pela indústria farmacêutica para testar
medicamentos.
Os cientistas normalmente testam em animais os medicamentos em
potencial. Contudo, na maioria dos casos, "o que foi prognosticado nos
estudos feitos com animais não é observado nos testes com humanos",
afirma Donald Ingber, diretor do Instituto Wyss, da Universidade de
Harvard. É claro que realizar testes iniciais em pessoas é muito
perigoso. "A solução que propomos é realizar a pesquisa em células
humanas", afirma o cientista, "mas não em células apenas, cultivadas em
placa de Petri, mas células que apresentem estruturas e funções como em
um órgão".
Para conseguir isso, Ingber e sua equipe vêm desenvolvendo um
conjunto diversificado de dispositivos em microescala que reproduzem a
estrutura e o ambiente de órgãos humanos com mais precisão que uma placa
de cultivo comum.
O primeiro órgão produzido pelo Instituto Wyss foi um pulmão
em um microchip que respira. Feito com materiais que não prejudicam as
células, o dispositivo transparente do tamanho de um dedo polegar é a
estrutura na qual as células pulmonares humanas se desenvolvem. Pelo
dispositivo passam microcanais.
Pelos canais centrais, nos quais as células pulmonares se
desenvolveram, circulam ar e fluídos, e devido à flexibilidade do
dispositivo, os cientistas podem aplicar pressão de vácuo nos canais
laterais para fazer com que os canais centrais se expandam e contraiam –
de forma muito semelhante aos pulmões humanos. A equipe demonstrou que
forças mecânicas como essas afetam o comportamento da célula. No caso
das células pulmonares, a respiração mecânica ajuda as células a
absorverem as partículas que flutuam na "câmara de ar".
Mais recentemente, o instituto desenvolveu um intestino em um
microchip. O canal central do dispositivo, revestido de células humanas,
pode ser exposto a movimentos ondulatórios que imitam os movimentos do
intestino durante a digestão.
No microchip, as células formam estruturas que se assemelham a
dedos, conhecidas como vilosidades, que são importantes na absorção de
nutrientes e outras substâncias. Essas estruturas não se formam quando
as células são desenvolvidas em placas de Petri, o que sugere que as
células percebam o ambiente do dispositivo como mais semelhante ao seu
meio natural. Os cientistas também podem desenvolver bactérias comuns do
intestino junto com as células do órgão no canal. Na placa de cultivo,
as bactérias geralmente atacam as células humanas, afirma Ingber.
"Agora, podemos estudar interações muito mais complexas."
Cada chip semelhante a um órgão oferece, individualmente, a
possibilidade de os pesquisadores estudarem as células humanas em um
meio bem mais natural e examinarem como elas reagem a medicamentos e
toxinas. Porém, Ingber está trabalhando em uma concepção mais ampla, que
une diversos desses chips. Por meio da conexão de versões
microfluídicas do coração, pulmão, intestino, fígado e outros órgãos,
Ingber e seus colegas acreditam que conseguirão estudar melhor de que
forma o corpo processa e reage a diversas substâncias.
Um projeto em andamento, com participação de Kevin Kit Parker,
membro do corpo docente do instituto, visa a examinar os efeitos
negativos para o coração dos medicamentos inaláveis – um problema que
existe há bastante tempo no campo da descoberta de medicamentos. "A
toxicidade cardíaca é, de fato, a maior causa de insucesso dos
medicamentos, seja qual for a doença visada", afirma Ingber.
Fonte: The New York Times / Info Online
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