PORTO ALEGRE (Reuters) - O Brasil está se preparando para usar um microchip projetado localmente para rastrear gado.
O sistema tem por objetivo impedir que rebanhos avancem sobre áreas ambientalmente sensíveis, como por exemplo as do bioma amazônico.
Produzido pela Ceitec, uma empresa financiada pelo Estado, o "Chip do Boi" é parte dos esforços de inovação desenvolvidos localmente que podem ajudar o país a superar os diversos desafios que a economia enfrenta.
"O Brasil tem vantagens competitivas em áreas como agricultura e energia limpa, e faz sentido que o país as mantenha por meio de inovações tecnológicas", disse Cylon Silva, presidente-executivo da Ceitec e físico teórico com doutorado pela Universidade da Califórnia, em Berkeley.
"Mas não existe maneira de um país do tamanho e influência do Brasil funcionar sem uma indústria de eletrônica", acrescentou.
A empresa foi inaugurada em 2008 com investimento de 500 milhões de reais do governo, que Silva define como crucial porque os investidores privados teriam visto a companhia iniciante como um risco alto demais.
Os rastreadores de gado da Ceitec, colocados na orelha dos animais, podem ajudar os pecuaristas a provar que seus rebanhos não foram expostos a zonas com risco de doenças, e podem ter papel crucial na criação de um banco de dados sobre gado que informe se animais pastaram em terras desflorestadas recentemente.
O BNDES anunciou no ano passado que começaria a requerer dos agricultores que financia provas sobre os locais de pastagem de gado, possivelmente por meio desse tipo de dispositivo.
A Ceitec também planeja chips de rastreamento voltados para localização de carros roubados ou para distinção de produtos biomédicos.
Mas o início da produção dos chips rastreadores de gado está com um ano de atraso por causa de problemas com equipamentos importantes.
O primeiro presidente-executivo da empresa, Eduard Weichselbaumer, engenheiro elétrico alemão e pioneiro dos chips no Vale do Silício, deixou a Ceitec há alguns meses, em meio a reportagens de que ele havia se queixado de que pesada burocracia estava sufocando a companhia.
Segundo a Ceitec, ele deixou a empresa para ficar mais próximo do filho na Califórnia.
Em 2009, o Brasil encaminhou 480 pedidos internacionais de patente ante cerca de 8 mil pedidos da China e 800 da Índia, segundo a Organização Mundial de Propriedade Intelectual.
O número de artigos científicos que incluem um autor brasileiro praticamente dobrou entre 1998 e 2007, segundo um levantamento da Thomson Reuters sobre ciência no Brasil.
A Ceitec assinou um acordo com a estatal de biotecnologia Hemobras para desenvolver etiquetas eletrônicas de identificação para bolsas de produtos de plasma que podem ajudar a reduzir erros na distribuição.
Silva afirma que pode levar décadas para que o país seja competitivo nos mercados mundiais de chips, mas o sucesso de empresas com produtos de alta tecnologia como a Embraer mostra que o Brasil pode produzir mais do que apenas commodities.
"Eu creio que há uma oportunidade real para um país com os recursos que o Brasil tem de se transformar em um nome desse mercado", disse ele. "Se podemos fabricar aviões, por que não pensar que podemos produzir circuitos integrados?"
Fonte: Reuters/Info Online
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