quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Nova Tomada Elétrica


Nova tomada, adaptador e benjamin

SÃO PAULO - Em menos de dois meses os fabricantes de eletrônicos e importadores serão proibidos de distribuir no Brasil equipamentos com plugues diferentes do padrão sextavado com dois ou três pinos redondos definido pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e Inmetro.

Sob críticas de que o país escolheu um padrão que ninguém usa no mundo e que a nova tomada obrigará os consumidores a gastar dinheiro à toa, o Inmetro defende a definição de um padrão local, afirma que a medida era necessária para garantir segurança ao usuário e nega que a mudança terá impacto financeiro negativo no setor.

Abaixo, o gerente de conformidade do Inmetro Gustavo Kuster explica como será a transição para o novo padrão.

A nova tomada passa a valer a partir de quando?

A partir de janeiro os fabricantes não podem mais produzir eletrônicos fora do padrão, nem os importadores trazer equipamentos com tomadas diferentes. Os produtos que já foram fabricados ou importados, no entanto, podem ser vendidos normalmente no varejo durante todo o ano que vem. O comércio só será proibido de vender produtos com tomadas antigas em janeiro de 2011.

Essa mudança não vai trazer prejuízos para o consumidor, forçando-o a trocar tomadas, comprar adaptadores ou mesmo ver seus velhos eletrodomésticos não funcionarem direito nas novas tomadas?

Toda mudança gera uma certa sensação de desconforto, a gente prefere não mudar nada. Lembro quando o cinto de segurança tornou-se obrigatório. Muita gente criticou, mas hoje ninguém pensa que aquela lei foi ruim. No caso das tomadas, esta mudança está acontecendo porque no Brasil existem mais de dez tipos de plugues e outros dez de tomadas. A tomada brasileira é aquela que, forçando um pouquinho, aceita qualquer plugue. Acontece que isto é sempre muito perigoso e fizemos a mudança pensando na segurança do consumidor.

Quais os riscos aos quais estamos expostos hoje?

Veja, com tantos plugues, tomadas e variações de tensão na rede elétrica o risco de falha, curto ou choque é elevado. Quem diz isso não é o Inmetro, mas o Corpo de Bombeiros. Estatísticas dos Bombeiros apontam que curtos elétricos são a primeira causa de incêndios domésticos. Nas residências mais ricas, onde a fiação é nova e de alta qualidade este risco é baixo, mas na maior parte das casas brasileiras, com fiação antiga ou de baixa capacidade essa farra de tomadas é um convite ao acidente.

Não seria possível, então, definir um padrão que causasse menos trabalho ao consumidor?

A definição do padrão, que começou a ser feita ainda nos anos 90, levou muito tempo em debate, ouviu consumidores, indústria, comércio, especialistas e, por fim tomou a decisão de escolher um padrão baseado em três pilares: compatibilidade, segurança e custo.

A tomada que criamos é compatível com 80% dos eletrodomésticos que existem nas casas brasileiras. Eu me mudei recentemente para um novo apartamento, já adaptado à nova tomada. Minha TV, computador, rádio, tudo funciona lá. A maior parte dos plugues de dois pinos redondos funciona nas novas tomadas. O que não funciona são chapinhas para cabelo, por exemplo.

Esses equipamentos têm plugue redondo mais grosso e não vão caber na nova tomada. Isto acontece por motivos de segurança: o pino mais grosso é para puxar mais eletricidade e não deve mesmo entrar numa tomada que não suporte isso, sob o risco de superaquecer e causar fogo.

Mas os pinos chatinhos não vão entrar mais nas novas tomadas...

Não, eles estão proibidos no país. O pino chatinho foi desenvolvido para a rede elétrica dos Estados Unidos, que é 110 v no país inteiro. Aqui, temos 110v, 127c, 220v... o pino chatinho não suporta essa variação de corrente. Pode ser bom para a rede americana, mas é ruim para o Brasil.

O Inmetro não poderia ter escolhido um tipo de tomada universal ou já popular em outros mercados?

Não existe tomada universal. Os Estados Unidos têm um padrão, a Europa tem vários outros, cada país da América do Sul tem o seu. Nós poderíamos, por exemplo, ter copiado o padrão americano. Mas, veja, o padrão deles funciona bem por lá, aqui não é seguro para funcionar na variedade de redes elétricas que existe.

Poderíamos ter escolhido o alemão, que é um dos mais seguros do mundo, mas é um padrão caro. Em alguns casos, o plug na Alemanha tem até um fusível dentro, isto não é uma maravilha de segurança? Sem dúvidas, mas é algo caro para o Brasil. Então, optamos por um padrão que é compatível com a maior parte dos eletrônicos que já existe no país e também é compatível com boa parte das tomadas e plugues da Europa e América do Sul, que se baseia em dois pinos redondos.

Mas nossa tomada terá três furos...

O terceiro pino é para o ´fio terra´. Nem todo eletrônico terá três pinos, só aqueles em que há maior demanda de energia ou risco de fuga de corrente, como microondas e geladeiras. Nesses casos, o consumidor deve usar um adaptador ou, o que é mais recomendável, trocar a tomada. O fio terra evitará a perda de energia com fuga de corrente, tornará o equipamento mais econômico, além de muito mais seguro.

Mas esse desenho sextavado só existe no Brasil

O modelo sextavado e afundado 1 cm na tomada visa manter o plug firme, sem balançar. Além disso impede o usuário de tocar no pino quando está tentando plugar o aparelho. O toque no pino é uma das principais razões de choque elétrico no Brasil.

Para isso, não bastaria exigir que os fabricantes cobrissem parte do pino com um material isolante? Como muitos já fazem, aliás...

Sim, isso resolveria o problema do choque. Mas e todos os outros problemas, como a variação de tensão, o fio terra e a uniformização dos pinos? Para isso, foi melhor desenvolvermos um novo padrão de forma completa.

Os adaptadores e benjamins serão proibidos? Dizem que os adaptadores só serão permitidos por até três anos...

Não, isso não é verdade. Essas informações estão confundindo os consumidores. Os adaptadores poderão ser comercializados livremente, até porque sempre haverá algum equipamento trazido pelo indivíduo que viajou ao exterior.

O que acontece é que, agora, eles terão que ser certificados. Aqueles benjamins em T que são vendidos no camelô por R$ 0,50 serão proibidos, mas qualquer fabricante que apresente ao Inmetro um produto de qualidade, poderá vendê-lo, desde que comprove sua segurança e eficácia. Isso certamente terá algum custo, o processo de certificação e meta de qualidade pode encarecer o adaptador ou o benjamin, mas isso visa a segurança do consumidor. É mais em conta ter um benjamin seguro que a casa incendiada.

Por que o senhor avalia que a nova tomada recebeu tantas críticas?

Alguns setores da indústria que tinham interesse em soluções de menor custo estão descontentes. Há também um ou outro importador ou exportador que lamenta ter que adaptar-se. Nós não criamos as novas tomadas simplesmente por que não temos nada melhor o que fazer, mas porque está é uma demanda da sociedade.

São muitas as reclamações no Idec, Pro Teste e Procon de vítimas de choque, de maus eletrônicos, de adaptadores perigosos. Esta solução busca criar um tipo de plugue e tomada que seja seguro para funcionar em todo o Brasil, com sua ampla variedade de correntes. Entre as opções disponíveis, escolhemos a adaptação que gerasse o menor custo para o consumidor e que trará o melhor ganho de segurança para todos nos.

Fonte: Revista Info

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