sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O Jurassic Park é Real

SÃO PAULO - Recriar dinossauros é impossível, mas cientistas planejam ressuscitar espécies que desapareceram há menos tempo.

A receita para fabricar qualquer criatura está no seu DNA. Por isso, em novembro, quando cientistas desvendaram quase toda a sequência do DNA do mamute — extinto há milhares de anos —, todos queriam saber se seria possível trazê-lo de volta à vida. Ainda não há tecnologia capaz de criar um ser vivo a partir do genoma presente apenas em um computador. Mas no futuro certamente alguém tentará isso, prevê Stephan Schuster, biólogo da Universidade do Estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e um dos principais nomes do projeto do mamute.

Só dá para tentar recriar animais cujo DNA puder ser totalmente reconstruído. Após a morte, contudo, mesmo o código genético presente em áreas intocadas acaba sendo destruído pela ação do sol e de bactérias. Existem algumas situações em que o DNA pode manter-se preservado. A chance é maior, por exemplo, se o animal tiver congelado até a morte numa região fria, como a Sibéria, ou morrido em um lugar muito seco. Mesmo em condições ideais, nenhum código genético consegue resistir por mais de 1 milhão de anos — portanto, esqueça os dinossauros. Apenas fragmentos mais jovens do que isso servem para produzir sequências de DNA de qualidade. “Só vale a pena estudar espécies desaparecidas há menos de 100 mil anos”, diz Schuster.

Transformar um genoma em criatura viva não será fácil. “Por enquanto, não consigo imaginar como isso seria feito”, afirma Svante Päävo, do Instituto de Antropologia Evolutiva Max Planck, na Alemanha. Além de reunir fragmentos e montar o DNA completo, será necessário inserir o código num óvulo de uma espécie compatível. O embrião precisará ainda de uma mãe de aluguel. Supondo que isso será possível um dia, selecionamos dez espécies extintas que gostaríamos que voltassem a fazer parte do planeta.

Preguiça-gigante (Megatherium americanum)

Data da extinção: 8 mil anos atrás

Integridade do DNA: 2 de 5

Mãe de aluguel adequada: 1 de 5

Esse animal que mede até 6 metros em pé pode chegar a pesar 4 toneladas. A extinção relativamente recente da preguiça significa que diversas amostras estão disponíveis, inclusive com pelos. Então veremos o genoma publicado? “Sem dúvida”, diz Hendrik Poinar, da Universidade MacMaster, no Canadá. Ele extraiu o DNA da criatura a partir de esterco fossilizado, depositado há 30 mil anos. A dificuldade para ressuscitar o animal está na falta de mães de aluguel adequadas. Seu parente mais próximo hoje — o bicho-preguiça — é muito pequeno. A fêmea pode até fornecer óvulos, mas o feto rapidamente ficaria maior do que sua genitora.
Dodô (Raphus cucullatus)

Data da extinção: 1690

Integridade do DNA: 1 de 5

Mãe de aluguel adequada: 3 de 5

Em 2002, geneticistas da Universidade de Oxford, Inglaterra, receberam permissão para explorar a mais bem preservada amostra de dodô: um osso da pata — completo, com tecido e penas — guardado no Museu de História Natural da instituição. “Essa foi uma das tarefas mais assustadoras que enfrentei”, diz Beth Shapiro, uma experiente especialista em DNA que agora trabalha na Universidade da Pensilvânia. Foram obtidos fragmentos do DNA mitocondrial do dodô e nada mais. Depois disso, nenhuma outra amostra rendeu sequer um esboço do DNA do dodô. Ainda há esperanças de sequenciá-lo, no entanto. Os pinguins seriam os parentes mais adequados para ajudar a ressuscitá-lo.
Tigre-de-dentes-de-sabre (Smilodon fatalis)

Data da extinção: 10 mil anos atrás

Integridade do DNA: 3 de 5

Mãe de aluguel adequada: 3 de 5

Seria incrível poder contemplar ao vivo esse fabuloso animal, com seus enorme caninos. Existem alguns exemplares muito bem preservados de tigres-dentes-de-sabre no Rancho do Poço de Piche de La Brea, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Mas, como o piche difi culta a extração do DNA, ninguém, até agora, conseguiu isolar as sequências adequadamente. Também há amostras preservadas no permafrost, solo permanentemente congelado em regiões de grande latitude. Poderiam ser uma fonte melhor de material genético. Se fosse reconstruído o genoma do tigre-de-dentes-de-sabre, a fêmea do leão africano, um parente próximo, poderia ser uma ótima doadora de óvulos e mãe de aluguel.
Urso-de-cara-achatada (Arctodus simus)

Data da extinção: 11 mil anos atrás

Integridade do DNA: 3 de 5

Mãe de aluguel adequada: 2 de 5

Essa gigante criatura faria o urso polar, o maior carnívoro terrestre da atualidade, parecer um anão. O urso-de-cara-achatada era cerca de um terço mais alto que o polar quando fi cava em pé e pesava até 1 tonelada. Recuperar seu DNA seria possível, já que existem amostras mantidas no permafrost, um solo permanentemente congelado. O parente mais próximo do urso-de-cara-achatada é o urso-de-óculos da América do Sul. As duas espécies conviveram há cerca de 5 milhões de anos. No entanto, por ter apenas um décimo da massa corporal do urso-de-cara-achatada, a fêmea do urso-de-óculos não serviria como mãe substituta.

Homem de Neandertal (Homo neanderthalensis)

Data da extinção: 25 mil anos atrás

Integridade do DNA: 1 de 5

Mãe de aluguel adequada:5 de 5

O rascunho de uma sequência do genoma do Neandertal foi publicado em agosto. “Para chegar a um DNA de qualidade mínima, comparável ao do chimpanzé, vai demorar mais dois anos”, diz Svante Pääbo, do Instituto de Antropologia Evolutiva Max Planck, na Alemanha. Com o código, os cientistas esperam entender as diferenças entre nós, humanos, e nossos misteriosos primos. Seríamos ótimos doadores de óvulos e mães de aluguel, mas isso nem passa pela cabeça dos pesquisadores. No máximo, serão trocados alguns genes humanos por genes do Neandertal em células em amadurecimento, só para ver no que dá.

Tigre-datasmânia (Thylacinus cynocephalus)

Data da extinção: 1936

Integridade do DNA: 4 de 1

Mãe de aluguel adequada: 1 de 5

O último tigre-da-tasmânia — batizado como Benjamim — morreu no zoológico de Hobart, na Austrália, em 1936. A existência de tecidos preservados com menos de 100 anos de idade significa que geneticistas poderiam completar a sequência do seu genoma em pouco tempo. Quanto à ressurreição, a dos marsupiais tende a ser mais fácil do que a de outros mamíferos. A gravidez dura, normalmente, poucas semanas. E a placenta se forma rapidamente, o que sugere que há menos riscos de incompatibilidade entre um embrião e uma mãe de aluguel de outra espécie. Para o tigreda-tasmânia, a mãe substituta ideal seria a fêmea do diaboda-tasmânia.

Rinoceronte-lanudo (Coelodonta antiquatis)

Data da extinção: 10 mil anos atrás

Integridade do DNA: 4 de 5

Mãe de aluguel adequada: 5 de 5

A chance de ressuscitar o rinoceronte-lanudo é grande. Como acontece com o mamute, há inúmeras amostras preservadas em permafrost. A existência de fragmentos de pelos, chifres e cascos é uma excelente vantagem. Esses restos podem ser limpos para remoção de DNA contaminado por micróbios e fungos, antes de se aplicarem enzimas para a liberação do DNA puro. Com isso, seu genoma completo deve ser publicado em breve. Embora o rinocerontelanudo tenha parentes ainda vivos que dariam boas mães substitutas, as espécies atuais estão ameaçadas de extinção. Se isso não mudar, ressuscitálo não será prioridade.

Gliptodonte (Doedicurus clavicaudatus)

Data da extinção: 11 mil anos atrás

Integridade do DNA: 2 de 5

Mãe de aluguel adequada: 1 de 5

Esse tatu, que tinha o tamanho de um Fusca e cauda pontiaguda, viveu no interior da América do Sul. Já que não existem gliptodontes congelados, obter DNA de qualidade depende da descoberta de amostras preservadas em cavernas secas e frias. Além disso, existe outro problema ainda maior: a espécie que poderia servir como mãe de aluguel e doadora de óvulos é um tatu que pesa “apenas” 30 quilos. A diferença entre os tamanhos das duas espécies impediria uma gestação completa.

Moa (Dinornis robustus)

Data da extinção: 1500

Integridade do DNA: 3 de 5

Mãe de aluguel adequada: 2 de 5

Há bastante DNA de moas disponível em ossos bem preservados e até em ovos encontrados em cavernas da Nova Zelândia. Portanto, é possível descobrir seu genoma. Mas de qual espécie? Seria tentador ressuscitar a enorme Dinornis robustus, que tinha até 3 metros de altura. Porém, faz mais sentido começar com a Megalapteryx didinus, de tamanho menor. Embora sejam parentes distantes, o avestruz seria apropriado como mãe de aluguel. Mas é mais provável que os cientistas manipulem um embrião de avestruz para se parecer com a moa.

Alce-gigante (Megaloceros giganteus)

Data da extinção: 7,7 mil anos atrás

Integridade do DNA: 3 de 5

Mãe de aluguel adequada: 2 de 5

Os caçadores de alces de hoje dariam quase tudo por uma chance de seguir esse gigante que vivia na Europa durante o Pleistoceno. Um Megaloceros macho típico chegava a medir mais de 2 metros de altura de corpo e ostentava chifres de quase 4 metros de largura. Na verdade, ele está mais para um veado do que para um alce. Seus parentes mais próximos são os muito menores antílopes. As duas espécies viveram juntas há aproximadamente 10 milhões de anos. A enorme diferença de tamanho entre ambas significa que será complicado transformar um genoma completo em animal vivo.

Fonte: Revista Info

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